quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Olá amigos,
"Jesus" sempre dá polêmica.
O Jean Claude Bernardet novamente escreveu sobre o filme que dirigi em seu blog. Agora ele respondeu a crítica do César Guimarães, que ficou atacando o filme.
É um debate interessante, sobre o filme e sobre os modos da crítica.
Quem quiser se manifestar e escrever pode comentar.
Mas como a briga está boa, se alguém quiser postar alguma crítica maior pode me escrever no newton.cannito@gmail.com que avaliio se da para publicar aqui no blog.
Segue o link da resposta do Jean Claude: http://jcbernardet.blog.uol.com.br/ e o texto abaixo.
Newton


12/02/2010
Lula e Jesus

Como a análise de LULA, O FILHO... sugerida por Eduardo Escorel, a análise de JESUS NO MUNDO MARAVILHA por César Guimarães e Cristiane Lima é uma análise imanente que não trabalha com parâmentros externos à obra. O conceito de base é a obra-em-si.

O texto revela uma verdadeira paixão pela análise, o que lhe confere uma grande densidade.

O que não exclui alguns vãos na armadura. Se se critica o filme por não problematizar a palavra “bandido” fartamente usada, por outro lado o texto não problematiza suficientemente palavras-chave como “cinismo”, e menos ainda “ética”.

Tampouco está problematizado um aspecto do texto que considero essencial: por que o texto é tão furioso? por que os autores estão tão furiosos? o que neles foi ferido pelo filme? Sim, entendi, o cinismo feriu a ética mas esta formulação não é suficiente.

A paixão pela análise leva os autores a se deterem sobre detalhes de composição da obra, o que é excelente. Analisa-se, por exemplo, um trecho do depoimento da mãe:

“Toda a sequência começa com os jogadores no paintball posando para a câmera. São filmados de frente, com os fuzis de brinquedo em punho, óculos e capacetes de proteção, coletes de segurança. Em voz over, a mãe lamenta : ‘Só quem sabe o que é a dor é quem passa pelo que eu estou passando. Ninguém tem ideia do que estou passando. Ninguém. Só. Era meu filho, meu único filho que eu tinha. Tiraram a vida do meu filho, sem dó nem piedade. Eu só queria justiça. Queria que alguém fizesse alguma coisa. Pelo amor de Deus !’ // O combate é acompanhado pela música do Pato Fu, cuja letra diz : “Hoje as pessoas vão morrer/ Hoje as pessoas vão matar/ O espírito fatal/ E a psicose da morte estão no ar”... Só quando a mãe clama por Justiça é que vemos a imagem da família”.

Essa seria, creio, uma sequência em que o cinismo fere a ética.

Pergunto: se, em vez do doloroso depoimento ‘over’ sobre o circo do paintball, tivéssemos a mãe falando ‘in’ num ambiente que não fosse um abstrato fundo infinito mas, por exemplo, a sua residência, se a câmera se mantivesse quieta, haveria alguma objeção? Acredito que não, a dor da mãe seria respeitada, a compaixão do espectador poderia se exercer sem perturbação. Seriam assim restituídos o discurso da lamentação (“a mãe lamenta”, conforme o texto) e o discurso do consenso. E assim não haveria problema. Mas assim não existiria JESUS NO MUNDO MARAVILHA, nem o furor do texto de César Guimarães e Cristiane Lima.

Eles foram excelentes espectadores, melhores do que eu: eles são os espectadores escandalizados.

Deve se acrescentar que o texto de César Guimarães e Cristiane Lima aborda uma questão essencial que foi pouco explorada ou até mesmo silenciada, a saber a participação corporal de Cannito no filme.



Escrito por Jean-Claude Bernardet às 13h44
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