terça-feira, 15 de março de 2011

Trechos sobre o debate do filme

“A grande virada que o Newton (o diretor do filme) deu é ter aplicado uma mecânica cômica, a um assunto que usualmente é visto na televisão e no cinema com gravidade, e entre nós, é considerado com gravidade. Esse filme é um escândalo! E ele é um escândalo justamente por ser um filme que não respeita nenhum dos princípios da seriedade. Ele fere todos os princípios do documentário convencional: entrevista sobre fundo abstrato, fundo infinito; entrevistas que não estão em “sincro”, dentro do carro; planos acelerados, ou plano ralentado; a parodia; o lúdico... Quando eu vi o filme pela primeira vez eu percebi que eu tinha rido várias vezes durante a exibição, mas quando acabou o filme eu estava absolutamente atônito. Esse filme transformou uma das chagas da sociedade - que provém da ditadura - num imenso espetáculo farsesco; e isto aumenta a gravidade, a dramaticidade, da situação. E nesse sentido, o filme é quase “uma tragédia em ritmo de Marcha Turca”. Os documentaristas brasileiros não poderão ignorar este filme à partir de agora. Que odeiem, que gostem, vai ser necessariamente uma referência. Ele é, desde já, um marco. Ou documentário irônico, ou documentário grotesco, ou documentário do artificialismo... vai ser alguma coisa em relação à qual as pessoas vão ter que de alguma forma, mais ou menos voluntariamente, se posicionar.”Jean Claude Bernardet (em debate no doctv)

“A questão do diretor é sim crucial; e ela deve ser avaliada, e discutida...
Não acho que o escândalo em si tenha nenhum mérito. ... Acho que esse filme é um exemplo claro de abuso do poder. E acho que nós não devemos ser complacentes com o abuso do poder. Abuso do poder do diretor, no caso.”
Eduardo Escorel (documentarista e montador, no mesmo debate do doctv)

“O filme tem uma certa complexidade filosófica, justamente ao assumir o espetáculo, ao assumir o artificialismo, a paródia, a simulação, o lúdico. Ele pertence ao mesmo universo de “Jogo de Cena” (do Eduardo Coutinho). São filmes que assumem que estamos na sociedade do espetáculo, que não temos como escapar e temos que lidar com isso, de alguma forma!”
Jean Claube Bernardet

E eu problematizaria justamente esse “lugar do filme”, “lugar do documentarista”. “Onde é que tá o documentarista nessa briga de discursos que o filme...” Que não é uma briga também tão grande assim não, na verdade acho que há um consenso no final, eu não acho que há dissenso; eu acho que no fundo ali todo mundo concorda. Documentarista, policial, mãe e palhaço. Porque todo mundo tá com o mesmo discurso. “A morte é necessária.”... É preciso a gente questionar esse projeto. Não estou dizendo “recusar” ou “condenar”; mas, questionar de fato esse projeto. Ele pode ser inovador; não necessariamente ele é uma inovação positiva
Cleber Eduardo


Eu me sinto um pouco com um transtorno bipolar como espectadora diante desse filme; porque eu oscilo entre a rejeição completa e a adesão à essa desestabilização diante de qualquer possibilidade de sentido. É uma ambigüidade radical, essa desestabilização que desestabiliza o consenso. E só há democracia no dissenso.
Ilala Feldman

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