O crítico Marcelo Coelho compareceu ao debate sobre o Jesus no Mundo Maravilha na Casa Gafanhoto e além de fazer uma excelente intervenção junto ao querido Jorge Cunha Lima também publicou em seu blog um texto falando sobre o Jesus.
Segue abaixo o texto publicado originalmente no blog do Marcelo. Para ler mais coisas que ele escreve é só clicar aqui.
Jesus no Mundo Maravilha por Marcelo Coelho
Na próxima sexta-feira será exibido na TV Cultura, às 22h 40, um documentário bem interessante. Chama-se “Jesus no Mundo Maravilha” e foi dirigido por Newton Cannito. Participei ontem de um debate sobre o filme.
Newton Cannito conseguiu entrevistar longamente três ex-policiais militares. Um deles perdeu a conta de quantos “bandidos” matou. Algo entre 80 e 100. Outro foi expulso da corporação e faz agora serviços autônomos de segurança na Zona Leste. O terceiro converteu-se a Jesus.
Sem assumir de jeito nenhum o ponto de vista dos policiais, o documentarista ganhou total confiança de seus personagens, que se mostram, como todo mundo, pessoas complexas, dotadas de suas próprias justificativas para o que fizeram, mas sobretudo capazes de sorrir, brincar, deprimir-se também.
Para maior distanciamento emocional, quase todas as cenas são rodadas num parquinho de diversões, onde o ex-cabo Jesus cuida da lei e da ordem. No debate, Newton Cannito conta que não tinha um programa muito claro sobre o que filmar. Mas que sabia de uma coisa: no momento em que pudesse filmar os policiais andando de carrossel, o seu documentário estaria terminado. Seria o sinal de que eles já não tinham mais nada a dizer; que estavam totalmente “desarmados”, vá lá a expressão, diante da câmera.
Para tornar as coisas mais estranhas, um palhaço, que ganha a vida divertindo as crianças do parquinho, quer de todos os modos participar do filme. É bem-recebido pela câmera, e termina participando de uma verdadeira mesa-redonda informal, na lanchonete do parque, com os ex-policiais, com três advogados defensores dos direitos humanos, e com um casal, cujo filho foi assassinado à queima roupa numa blitz da PM.
Sem entrar em nenhum dos cacoetes do realismo brutal-chocante, tão comuns na literatura da violência e da periferia, “Jesus no Mundo Maravilha” é muito perturbador e impressionante. Não pelo que mostra de ações policiais, mas pela ausência dessas cenas. Ficamos conhecendo, sem discurso, e sem demonização, a mentalidade dos policiais. Não é um filme contra a política dos direitos humanos, claro. Mas ajuda a entender por que essa política conhece tantas dificuldades na hora de ser posta em prática.
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Um comentário:
Só fiquei sabendo desse documentário hoje, 26 de setembro, perdi. Vai passar em outro canal ou em outra data? Está programado alguma sessão em cinema do Rio? Sou professor e queria assistir. Existe a possibilidade de passar na minha escola? Por favor me avisem meu e-mail é baltares@uol.com.br
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